Depressão no ambiente de trabalho: sintomas, impacto nas empresas e o que a lei exige
27/08/2025
A depressão é frequente, séria e prevenível. No Brasil, os afastamentos por transtornos mentais vêm crescendo e a legislação de SST passou a exigir que as empresas avaliem riscos psicossociais no PGR - com vigência nacional a partir de 25 de maio de 2026.
Saúde nas empresas
A competição acirrada, as metas agressivas e a escassez de tempo criam terreno fértil para o adoecimento. A depressão não é “frescura” - é um transtorno de alta prevalência e principal causa de incapacidade em escala global, afetando pessoas de todas as idades.
No Brasil, o problema já se traduz em afastamentos recordes e custos crescentes. Em 2024, episódios depressivos e transtornos de ansiedade estiveram entre os principais motivos de benefícios por incapacidade. Para qualquer empresa, o recado é claro: cuidar de saúde mental faz parte da gestão de riscos e da sustentabilidade do negócio.
O que é depressão no trabalho e o que não é
Depressão é um transtorno de saúde mental caracterizado por humor deprimido persistente, perda de interesse em atividades prazerosas, alterações de sono e apetite, fadiga, culpa excessiva e, em quadros mais graves, ideias de morte. É diferente de uma tristeza passageira: na depressão, os sintomas duram semanas/meses.
Também não devemos confundir depressão com burnout. O burnout é uma síndrome ocupacional ligada ao trabalho (exaustão emocional, cinismo, baixa eficácia), que pode coexistir com depressão, mas tem dinâmica própria de exposição a estressores ocupacionais. Para gestores, o ponto prático é: não cabe diagnóstico à liderança - cabe reconhecer sinais, ajustar o trabalho e facilitar o acesso a suporte profissional.
Sinais e sintomas observáveis no dia a dia
Observação: reconhecer sinais não substitui diagnóstico médico, mas ajuda a intervir mais cedo.
Queda consistente de desempenho e dificuldade de concentraçãoIsolamento social, retraimento em reuniões, faltas frequentesIrritabilidade incomum, respostas muito negativas a feedbacksFadiga persistente, comentários de desesperança (“nada vai melhorar”)Alterações de sono aparentes (bocejos frequentes, atrasos por insônia)Descuido com prazos e rotinas que antes eram estáveis
O tamanho do problema em números
• Global: a depressão é uma das principais causas de incapacidade e atinge centenas de milhões de pessoas; transtornos mentais respondem por uma fatia relevante dos anos vividos com incapacidade.
• Brasil: estudos indicam alta prevalência ao longo da vida; as estatísticas oficiais destacam crescimento de afastamentos por transtornos mentais, com episódios depressivos entre os motivos mais frequentes em 2024.
• Tendência: análises recentes apontam que os afastamentos por saúde mental aumentaram fortemente na última década, pressionando empresas e sistemas públicos.
Por que falar disso agora no Brasil: NR‑1, PGR e riscos psicossociais
O Brasil vem atualizando seu arcabouço de SST. A Portaria MTE nº 1.419/2024 revisou o capítulo 1.5 Gerenciamento de Riscos Ocupacionais e o Anexo I (Termos e definições) da NR‑1, reforçando a integração de fatores psicossociais no PGR. Em paralelo, o MTE comunicou que as empresas terão que avaliar riscos psicossociais, e o início da exigência nacional foi postergado para 25/05/2026.
Essa mudança conecta‑se à NR‑17 (Ergonomia), que orienta a adaptação do trabalho às características psicofisiológicas e prevê avaliações que podem ser articuladas ao processo de identificação de perigos e avaliação de riscos previsto na NR‑1. Uma leitura integrada NR‑1/NR‑17 ajuda a transformar “saúde mental” em medida concreta de prevenção dentro do PGR.
Linha do tempo (SST) simplificada
• Ago/2024: Publicada a Portaria MTE nº 1.419/2024 (nova redação do GRO/NR‑1).
• Nov/2024: Governo comunica que empresas deverão avaliar riscos psicossociais no PGR.
• Mai/2025 → Mai/2026: Adiamento de um ano do início de vigência das atualizações relativas a riscos psicossociais; nova data: 25/05/2026.
O que isso significa na prática?
O PGR precisa nominar e avaliar fatores como: organização do trabalho (metas irrealistas, jornadas extensas), relações (assédio, discriminação), autonomia/controle, exigências emocionais, etc. Referenciais técnicos do MTE destacam os fatores de risco psicossociais associados a desenho, organização e gestão do trabalho.
Resultados dessa avaliação devem gerar medidas de prevenção (organizacionais, de gestão e educacionais) e indicadores de acompanhamento.
Papel das lideranças
A liderança tem efeito multiplicador. Alguns princípios norteiam a cultura que previne depressão:
• Previsibilidade e justiça de carga (planejamento de demandas, metas realistas).
• Feedbacks privados e respeitosos, com foco em comportamento/resultado, não em rótulos.
• Autonomia com suporte: clareza de prioridades + liberdade para organizar a execução.
• Sinais públicos de cuidado: pausas, pausas ativas e respeito a horários não são “mimos”, são controles de risco.
• Encaminhamento responsável: líderes acolhem, não diagnosticam; RH/saúde ocupacional orienta o cuidado.
A importância da prevenção
A depressão pode ser tratada, mas é muito melhor quando conseguimos agir antes que o sofrimento se torne pesado demais. Prevenir significa cuidar das pessoas no dia a dia, criar espaços de escuta, oferecer pausas e lembrar que cada colaborador é, antes de tudo, um ser humano com histórias, emoções e limites. Quando o ambiente de trabalho valoriza esse cuidado, todos ganham:
Pessoas se sentem mais acolhidas e seguras;
- As relações se tornam mais respeitosas e leves;
- Há mais espaço para confiança, criatividade e cooperação;
- A vida dentro da empresa passa a ter mais sentido e menos pressão.
A prevenção deve integrar o PGR e as ações de saúde ocupacional, deixando de ser uma iniciativa isolada de RH e passando a ser uma estratégia de gestão.
Prevenir é assumir um compromisso genuíno com o bem-estar e a dignidade de quem trabalha. É reconhecer que saúde mental é parte essencial da vida e precisa caminhar junto com a saúde física em qualquer ambiente de trabalho.
Os 5 passos para a prevenção
1 – Empatia
Cada colaborador é único. Demonstrar acolhimento evita que pequenas dificuldades evoluam para quadros graves.
Como aplicar: treinar lideranças para escuta ativa, reconhecer conquistas e oferecer suporte quando há sobrecarga.
Exemplo prático: líder que percebe queda de desempenho chama o colaborador em particular, pergunta sobre dificuldades e oferece alternativas (redistribuição de tarefas, apoio técnico, contato com RH).
Checklist rápido para líderes:
- Ouvi sem interromper?
- Reconheci a situação em vez de minimizar?
- Indiquei os canais formais de apoio (RH, psicologia, SESMT)?
2 – Modo de falar
A forma de dar feedback tem impacto direto na saúde emocional.
Como aplicar: evitar repreensões públicas; usar linguagem construtiva; focar no comportamento, não na pessoa.
Exemplo prático: em vez de “você sempre atrasa”, usar “notei que os relatórios têm chegado depois do prazo, vamos ver juntos como melhorar a gestão do tempo”.
Erro comum: feedback negativo dado na frente da equipe - gera constrangimento, competitividade tóxica e insegurança.
3 – Invista em profissionais
Ter apoio especializado ajuda na detecção precoce e encaminhamento.
Como aplicar: contratar psicólogos para atendimentos pontuais, incluir saúde mental nos exames ocupacionais, firmar convênios com clínicas parceiras.
Exemplo prático: empresa disponibiliza 2 horas semanais de atendimento psicológico sigiloso, custeado como benefício corporativo.
Benefício adicional: registros de atendimentos (preservando sigilo) podem gerar indicadores para o PGR, ajudando a mensurar fatores psicossociais.
4 – Tenha momentos de união
Integração fortalece vínculos e reduz isolamento, que é um fator de risco para depressão.
Como aplicar: promover cafés de confraternização, atividades de integração de equipes, celebrações de metas alcançadas.
Exemplo prático: encontros mensais para troca de aprendizados, valorizando contribuições individuais.
Alerta: esses momentos devem ser inclusivos, não obrigatórios e respeitar diferentes perfis (extravertidos e introvertidos).
5 – Pausas são importantes
Descansar a mente aumenta produtividade e reduz estresse.
Como aplicar: formalizar pausas curtas durante a jornada, incentivar micro descansos para alongamento, promover ginástica laboral.
Exemplo prático: a cada 90 minutos de trabalho em frente ao computador, colaboradores fazem uma pausa de 10 minutos com alongamento guiado.
Checklist para a empresa:
- As pausas estão previstas na política interna?
- Há incentivo de lideranças para que sejam cumpridas?
- Existem programas complementares (ex.: ginástica laboral)?
Outras boas práticas complementares
A prevenção é um movimento contínuo com base em iniciativas estruturadas. Além dos passos já apresentados, sugerimos algumas práticas podem fortalecer ainda mais o compromisso das empresas com o bem-estar de suas equipes:
• Treinamento de líderes em comunicação não violenta;
• Campanhas sazonais de saúde mental (Janeiro Branco, Setembro Amarelo);
• Canais de escuta anônima para relatos de assédio ou sobrecarga;
• Indicadores periódicos de clima e bem-estar no PGR.
Indicadores para monitorar
Cuidar da saúde mental não é algo que possa ser reduzido apenas a números, mas acompanhar alguns sinais ajuda a perceber se as ações estão realmente funcionando. Esses indicadores servem como um termômetro: mostram quando a equipe está mais protegida e quando é preciso ajustar o rumo.
- Taxa de absenteísmo por motivo de saúde mental;
- Percentual de afastamentos ligados a transtornos depressivos;
- Resultados de pesquisas de clima organizacional (satisfação, engajamento);
- Participação em programas de bem-estar e treinamentos;
- Número de quase-acidentes/incidentes com ligação a fadiga ou estresse.
Responsabilidade legal e social
A legislação de Saúde e Segurança do Trabalho já reconhece os riscos psicossociais como parte obrigatória do PGR a partir de maio de 2026. Isso significa que, além de ser um compromisso humano, cuidar da saúde mental no trabalho é também uma responsabilidade legal.
Mas antes da lei, existe o que é mais importante: as pessoas. E cada passo dado nesse sentido é um investimento em dignidade, qualidade de vida e relações de confiança.
Como podemos te ajudar?
Na Meta, acreditamos que saúde ocupacional vai muito além dos exames obrigatórios. Nosso propósito é ajudar empresas a criarem ambientes em que os trabalhadores se sintam protegidos, valorizados e respeitados. Entre as soluções que oferecemos:
- Apoio na implementação de programas de prevenção em saúde mental integrados ao PGR;
- Equipes multidisciplinares para orientar gestores e RH;
- Campanhas educativas em datas de conscientização como Janeiro Branco e Setembro Amarelo;
- Parcerias com profissionais especializados para atendimento e suporte psicológico.
Assim, ajudamos empresas a cumprirem a lei, mas principalmente a cuidarem de quem faz o negócio acontecer.
Falar sobre depressão no trabalho é falar sobre pessoas reais, com histórias e sonhos. A prevenção não é só um processo técnico ou legal, mas um gesto de humanidade que transforma rotinas e constrói confiança.
Cada empresa tem a chance de ser um espaço onde respeito, empatia e cuidado se tornam parte natural da jornada de trabalho.
Se a sua organização quer dar esse passo, a Meta está pronta para caminhar junto - ajudando a transformar exigências legais em ações humanas que fazem diferença no presente e no futuro.
Em resumo
• O que é depressão?
É um transtorno mental que causa sofrimento e limita a capacidade de trabalhar e se relacionar, sendo uma das principais causas globais de incapacidade.
• O que a lei de saúde exige das empresas?
A atualização da NR‑1 reforça que riscos psicossociais devem ser integrados ao PGR; a obrigação foi prorrogada para 25/05/2026.
• Como as empresas podem prevenir a depressão no ambiente de trabalho?
Incluir diagnóstico no PGR, plano de prevenção, formação de lideranças, canais de acolhimento e campanhas recorrentes.
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